segunda-feira, 23 de abril de 2007

Cadernos de Telejornalismo - Estúdio Santa Catarina

Priscila Simas, Franciele Borhausen, Scheila dos Santos e Isabel Germano

Depois de ver algumas edições do programa “Estúdio Santa Catarina” que se exibe nos domingos às 23h30m e a partir de leitura de alguns teóricos como Marcondes, Bordieu e machado, refletimos sobre a apresentação, estética, formato e linguagem do programa. Ciro Marcondes Filho, poderia ter utilizado a frase “O Mundo é Quadrado”, a vida inteligente dentro e fora dos quadrados não interativos. O público seleciona o que quer ver, ou o que mais se aproxima ao que ele gostaria de ver, vivenciar, experimentar. Os avanços tecnológicos nos permitiram mais conforto, para tal atitude, o controle remoto por exemplo foi um auxiliar na difícil tarefa de selecionar bons e melhores programas. A concorrência por mais audiência aumentou na TV, boom para o telespectador, péssimo para ele também. Os telejornais apropriaram-se de lugares até então exclusivos da classe artística, teatro, improvisação, atuação, maquiagem, camarim, porém há um olvido. O teatro dialoga, interage. A tv monologa.

Desta experiência empírica relatada por nosso grupo, experimental, observa-se que em determinados momentos, o espectador já não tem certeza se há informação ou entretenimento, ou onde há este último bem pode haver informação. O programa escolhido por nosso grupo “Estúdio Santa Catarina” tem sua concepção na capital catarinense Florianópolis, é afiliada a Rede Globo, o que lhe proporciona um estreitamento na programação local. O telejornalismo local e regional se liquidifica entre publicidades e merchand.

Outro inconveniente é a mobilidade do espelho da afiliada quando a programação da Rede Globo se estende, o espelho encurta em tempo e programas. A obediência. A conveniência. Veja um exemplo: o programa do dia 10/09 foi “jogado” (entenda-se como expressão, não pejorativa) para outro horário devido à apresentação do “Brasilian Day”. Os apresentadores do “Estúdio Santa Catarina” entravam entre programa e programa para fazer a chamada. Essa mobilidade na programação não é levada em conta os interesses do público local, que talvez sequer tenha interesse em ver, brasileiros pulando no exterior com musicas do Calypso e Sandy & Junior. Mas sim estejam esperando para ver a série “fome” apresentada no programa regional. Talvez boa parte do público tenha se contentado com a “pulação” , não escutamos a sociedade, e ainda se fizéssemos estaríamos longe de saber o que em totalidade pensam a respeito os televidentes. É bem melhor entorpecer-se com músicas de letras baratas, mas com frenesi, que entrar em contato com uma realidade dura e chocante como a fome, a miséria, a falta de água, e de respeito com o ser humano. Divagações nossas!

A revista semanal “Estúdio Santa Catarina” apresenta jornalismo, entretenimento, documentário, e sempre há um bloco sobre sexualidade. Aliás, este último acréscimo da revista semanal vem crescendo, e tomou um bloco inteiro do programa e toma conta do quadro interativo que o programa dispõe para interagir com o espectador.

Segundo MARCONDES (2000:85) “a tv expurga qualquer pensamento complexo”, a efemeridade dos telejornais diários, é a noticia do descobrir, mas não da reflexão, a reflexão não chega a tempo. Porque imediatamente em menos de dois segundos temos outra noticia, o jornal passa de jornalismo a noticiário. A notícia não informa repassa um acontecimento, que por vezes ainda fica mais complicado de entender por comentários desnecessários de pessoas despreparadas para tal comentário. A confusão gera um telefone sem fio onde quem ouve sempre ouve o que quer e ainda como quer. Uma ressalva para o programa por nós estudado traz consigo uma semana para produzir seus quadros, sua produção é mais elaborada e os desdobramentos feitos com pesquisa e contra fontes, mais de 3 fontes. O tempo de elaboração, leva a contar os fatos com propriedades com o mesmo cuidado que meios impressos como as revistas semanais ou mensais conseguem fazer. Temas como segurança pública, mortalidade infantil, pobreza, temas que são desdobrados em vários setores da sociedade. Não o que os intelectuais pensam de fato da pobreza, mas o que os menos favorecidos pelo capitalismo pensam de sua condição, o que o governo está fazendo para diminuir os abismos sociais, como a sociedade pode colaborar para amenizar as diferenças. Aliás, as campanhas sociais de cunho apelativo, só creditam a falência de nossos governos em uma distribuição de renda justa. O fato é que o jornalismo se banalizou a partir de um modelo americano também já ultrapassado, na velha contemporaneidade do jornalismo latino-americano, as propagandas eleitorais têm formato de entrevista, utilizando um comunicador social como fator de respeitabilidade em favor de interesses políticos. Nesse mesmo estilo as propagandas de lojas e artefatos seguem a mesma linha. Maquiavélico.

Quando o público senta-se para ouvir o jornal diário não significa que ele vai pensar sobre o que aconteceu e ouviu, mas ele vai poder falar “ah! eu vi o jornal”. Vê-lo não quer dizer eu penso sobre. Nem poderia pensar ou causar uma reflexão social, afinal em um mesmo período em que diz “Pelo menos 90 foram mortos na explosão” o mesmo apresentador é capaz de trocar de câmera e dizer “Daniela Cicarelli e Ronaldinho se casam em castelo suíço”. Ora, como pretender que o público faça uma reflexão sobre os mortos, se há duas informações tão contrapostas. Conclusões, no dia seguinte todos estarão comentando dos casamentos das celebridades, algum que outro estará dizendo: ainda bem que a gente tá longe dessas explosões. Alienação.
Pelo fato de monopolizar todo o sistema atual de informações a TV funciona como “o mundo”. Um mundo onde as pessoas preferem como real, em lugar do mundo que vêem da janela de seus apartamentos ou do pára-brisa de seus carros. Um mundo “não selvagem”, devidamente domesticado, sob controle, ordeiro. O outro, o mundo que se tem de ver forçosamente, o mundo dos mendigos de rua, da violência do transito, das sujeiras das cidades, do abandono geral , da decadência de toda uma civilização, é um mundo “não registrado”, visto mas não considerado, “não existente" (MARCONDES, 2000:90).

O fato é que se temos o suficiente, importa em uma escala de 0 a 10, 9 que outros não tenham. O fato é que estamos além se segmentados socialmente, segmentados racialmente, geograficamente, estamos interligados pelas mesmas fontes de comunicação e desinformação não conseguimos ver o que os noticiários nos falam? Porque não conseguíamos falar do que nos mostram? Porque continuamos apáticos, em morte lenta. O que nos fala Marcondes, nada mais é do que a morte lenta, o esquecimento, afastar o que não me agrada isolar, até que sozinho consiga terminar com sua dignidade e finalmente aparte-se de mim, da sociedade, do planeta. Talvez estejamos mal informados? Talvez sejam meios de comunicações com interesses, ou desinteresses sociais? Por hora são apenas questionamentos, e vontades de um jornalismo alternativamente mais coeso com os interesses sociais daqueles que continuam sem voz, em morte lenta.

A nossa revista “Estúdio Santa Catarina”, a revista dos catarinenses todos os domingos, passa suas matérias através de dois apresentadores, que determinam o momento de entrada dos repórteres, matérias, gráficos ou entrevistados, saindo do estilo tradicional de informação em bancada, com dois apresentadores sentados. Após uma matéria, os apresentadores voltam e explicam do que se trata à próxima e assim entra novamente o assunto enunciado pelo apresentador.

Se o âncora tem poderes de decidir sobre as vozes que entram e saem, portanto de delegar voz aos outros, se ele permanece a fonte principal de organização dos enunciados, estamos diante de um telejornal de modelo centralizado e opinativo.
(MACHADO,2000:108).

O problema dos jornais opinativos, ou apelativos, é sem dúvida um comentarista despreparado para tal ou qual comentário. É sempre de muita responsabilidade traduzir os acontecimentos, imagine que alguma porção das traduções e interpretações cabem a subjetividade deste tradutor, neste caso o jornalista. O comentarista vai comentar baseado nos fatos lidos nos jornais, ou seja, em base já a uma tradução da realidade. Se não houver uma contextualização histórica, uma instrução elevada e sensibilidade humana, esse comentário será prejudicado por pressupostos e preconceitos, que geram na sociedade mais preconceitos e mais pressupostos. O efeito será destrutivo sem propriedades para refletir soluções possíveis.
Assim como em nome de crenças religiosas se matou no planeta, pode ser que em nome do que o “fulano” falou no jornal, tal “ciclano” seja mesmo um vagabundo. Percebe-se então a responsabilidade da noticiabilidade e do novo jornalismo.


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